A Catedral da Sé, no coração de São Paulo, ficou lotada para um ato ecumênico em memória dos 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, ocorrido em 25 de outubro de 1975, durante a ditadura militar. O evento, organizado pela Comissão Arns e pelo Instituto Vladimir Herzog, evocou a cerimônia inter-religiosa histórica de 1975, que reuniu cerca de 8 mil pessoas no mesmo local em desafio ao regime.
Ivo Herzog, filho de Vladimir, presente no ato, expressou a esperança de familiares de vítimas da ditadura por um processo legal completo. Ele defendeu a investigação das circunstâncias dos crimes, o indiciamento dos autores (vivos ou mortos), e o julgamento pelo poder judiciário.
Ivo também destacou a luta da sociedade pela revisão do parecer do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à Lei da Anistia de 1979, mencionando a ADPF 320, ação protocolada em 2014 pelo PSOL e pendente de julgamento. Ele criticou a demora na análise da ADPF, alegando cumplicidade com a impunidade. O Instituto Vladimir Herzog, amicus curiae da ADPF, argumenta que a interpretação atual da Lei de Anistia assegura a impunidade de crimes de lesa-humanidade cometidos por agentes da ditadura, em desacordo com tratados internacionais de direitos humanos.
Ivo também criticou o “sequestro” do tema da anistia pela extrema-direita, descrevendo a anistia de 1979 como uma “aberração”, pois o regime nunca reconheceu crimes.
O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, compareceu à cerimônia e reforçou a importância de fortalecer a democracia, a justiça e a liberdade, lembrando que a morte de Herzog foi resultado do extremismo do Estado. Questionado sobre a revisão da Lei da Anistia, Alckmin respondeu que “já demos bons passos nessa questão”.
O ato contou com a presença de diversas personalidades, incluindo Luiza Erundina, José Dirceu, Eduardo Suplicy, Juca Kfouri, entre outros.
Durante a cerimônia, o Coro Luther King se apresentou, seguido de manifestações inter-religiosas. Foram exibidos vídeos com imagens de manifestações e vítimas do Estado desde a ditadura. Um dos vídeos apresentou a leitura de uma carta de Zora Herzog, mãe de Vlado, para o juiz Márcio José de Moraes.
Vladimir Herzog foi torturado e morto nas dependências do Doi-Codi, órgão de repressão da ditadura militar. Na época, ele era diretor de Jornalismo da Cultura e se apresentou voluntariamente ao órgão. O jornalista Sérgio Gomes, que estava preso no Doi-Codi na data do assassinato, relatou ter ouvido tortura e a simulação de suicídio.
Desde a morte de Herzog, sua esposa, Clarice Herzog, liderou as denúncias sobre o assassinato político. O ato na Catedral da Sé, realizado no dia 31 de outubro de 1975, foi um marco na resistência democrática.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br